CHAPA
RECONSTRUÇÃO SOCIALISTA
Somos um
coletivo de filiados e filiadas, militantes e agrupamentos organizados nas
correntes: Militância Socialista, Articulação de Esquerda, Avante e PT Novo de
Novo, que tem atuado historicamente na construção do partido, lutando pela
defesa e futuro do PT. Buscamos mantê-lo como uma possibilidade revolucionária
e democrática para o Brasil, o que se dará pela esquerda, com trabalho de base,
formação política, comunicação ágil e direta, atuação em movimentos sociais e
sindical, gerindo governos participativos e mandatos parlamentares engajados nas
lutas.
Acreditamos
que o PT deu uma contribuição importante pela democratização do Brasil e pela
promoção da justiça social. Porém, ao longo dessa trajetória, o partido se
burocratizou e se institucionalizou, perdendo vigor e capacidade de liderar as
mudanças que o país precisa. A despeito disso, temos convicção de que não há
outras opções viáveis na esquerda e por tanto é necessário (e urgente)
recuperar o PT, com toda nossa capilaridade, para voltar a ser a referência da
classe trabalhadora no Brasil, diante de tantos desafios que estão colocados.
Por isso
compomos nacionalmente, bem como no Paraná, do bloco chamado Muda PT, que reúne
forças que discordam da política burocratizada e do posicionamento rebaixado
que partido vem assumindo nos últimos anos. Assim, apresentamos nossas
concepções, opiniões e propostas ao conjunto do Partido respeitando a
pluralidade e as diferenças que são parte das razões da vitalidade e da força
do Partido dos Trabalhadores. Precisamos de um Partido forte para enfrentar os
dilemas atuais da esquerda e da luta pelo socialismo.
A extrema
direita avança em todo o mundo. Seu sucesso é fruto da sua capacidade de
instrumentalizar os efeitos da crise do capitalismo para dividir a classe
trabalhadora, mas também dos erros cometidos pelos tradicionais partidos
socialistas e social-democratas em quase todo o ocidente.
Trata-se
de uma conjunção de fatores que tem como pano de fundo dois elementos centrais:
a disseminação do medo, seja de perder o emprego ou de vivenciar um atentado
terrorista - e a completa perda de credibilidade de partidos de esquerda que,
quando no poder, se envolveram em escândalos de corrupção e/ou passaram a
implementar programas avessos às suas plataformas eleitorais e programas
históricos.
Nesta
esteira, ideias fascistas, preconceituosas e medievais crescem no Brasil a
passos largos. Seja em apoio às medidas austeras na economia que ataca
diretamente os direitos trabalhistas, seja indiferença da situação prisional
brasileira evidenciada recentemente na crise penitenciária. Assim, os
movimentos de esquerda padecem, desde o golpe, em uma agenda defensiva e na
organização da resistência democrática. Atos políticos sendo brutalmente
contidos pela polícia, retirada de ocupações dos movimentos Sem Terra e Sem
Teto e obstruções de greves sindicais passou a ser regra no Brasil. A agenda
conservadora fruto da aliança do oligopólio da mídia, parcela do judiciário e
Ministério Público, Congresso Nacional e capital estrangeiro produzem a pior
ameaça aos direitos dos trabalhadores e minorias desde o golpe de 64.
Assim, é
evidente que o golpista Temer não é uma alternativa para o povo brasileiro e
sua renúncia é condição para a superação da crise e da recessão econômica.
Portanto a convocação de eleições, imediatamente, é o único caminho para
superar este impasse. Nesse sentido, para além das pautas específicas e a
organização para barrar os retrocessos, as principais bandeiras de luta e que
dão unidade ao campo da esquerda hoje no Brasil são o Fora Temer e o chamamento
por Diretas Já. O acúmulo de forças progressistas no Brasil hoje se dá
estrategicamente em torno da luta pelo reestabelecimento democrático, mesmo
considerando os limites da democracia burguesa.
Nesse
contexto, o VI Congresso do PT se dará em meio à maior crise da história do
nosso partido. Não se trata do fim do PT enquanto instrumento de luta da classe
trabalhadora, nem tampouco do aniquilamento da esquerda para o qual nossos
inimigos de classe trabalham diuturnamente, mas da evidente necessidade de um
balanço autocrítico de nossas ações que nos permita apresentar um programa à
altura dos desafios do nosso tempo.
Não é
pouco relevante o golpe de Estado que sofremos junto com o povo brasileiro e, a
perda de confiança de candidatos e eleitores que produziram o maior número de
perda de votos da nossa história. Nas últimas eleições, o PT perdeu 10 milhões
de votos em todo o país.
À luz da
compreensão do nosso lugar no mundo, das dificuldades objetivas enfrentadas por
um partido de esquerda num contexto de ampla fragmentação no Congresso
Nacional, e das arraigadas estrutura da burocracia estatal deveu realizar um
aprofundando balanço. Não se trata de personalizar o debate, mas de maneira
fraterna discutir nossas ações à frente dos governos; o papel do PT durante
esse período; a política de alianças que nos trouxe até aqui; e nossa relação
com os movimentos sociais e a sociedade como um todo.
Apenas
por meio deste balanço sincero, teremos condições de retomar nossa
credibilidade junto à sociedade e ter elementos para construir um novo
programa. Precisaremos ainda de uma análise aprofundada da atual estrutura de
classe em que estamos inseridos, bastante distinta daquela em que o PT foi
fundado, do caráter de um capitalismo profundamente globalizado e
financeirizado, e das transformações da sociedade brasileira que ajudamos a construir,
mas que pouco nos dedicamos a compreender e a disputar.
Portanto,
a presente tese discute assuntos fundamentais para situar o Partido dos
Trabalhadores e sua militância no quadro político internacional, nacional e
estadual, no que entendemos que deve ser o novo programa estratégico da
Esquerda brasileira e assim, delimitar o papel do PT e suas tarefas de
reconstrução e organização. Mesmo entendendo e lamentando os limites desse VI
Congresso (etapa municipal o PED), acreditamos que podemos contribuir para
apontar novos rumos para o Partido para que ele retome seu papel de referência
da esquerda e da classe trabalhadora rumo ao socialismo.
QUADRO POLÍTICO INTERNACIONAL
A crise
do Capitalismo e a alternativa democrática e popular
As crises
políticas têm sido o momento onde os partidos e forças neoliberais encontram
ambiente para a implementação de políticas recessivas e antipopulares,
ampliando seu efeito negativo sobre as economias dos países afetados, em
especial dos países de economia subordinada e emergente. As crises são o espaço
preferencial para o crescimento e implantação do neoliberalismo. As soluções
autoritárias são, portanto, as estratégias preferenciais do capital financeiro
e do neoliberalismo.
A
direita, vinculada ao grande capital financeiro internacional, utiliza as
crises neoliberais tanto como desculpa quanto como oportunidade para privatizar
os serviços públicos, diminuir a teia de proteção social, desregulamentar
corporações e regulamentar e controlar, novamente, a sociedade e, em especial,
os movimentos sociais.
Os
efeitos da crise econômica internacional dinamitaram o ciclo
neodesenvolvimentista no Brasil e com ele ruiu a frente social composta pelo PT
com setores da burguesia industrial. A dinâmica hegemonista do capital
financeiro atraiu a burguesia brasileira que, progressivamente, foi abandonando
esta política de investimentos produtivos e dirigindo seus lucros ao rentismo
global. Dinâmica que acelerou a crise econômica no País.
Essa
crise econômica ampliou a pobreza no mundo. Ao contrário de optar por superar a
pobreza com distribuição da renda e da propriedade, o capitalismo mundial
apertou o cinto dos ajustes fiscais e das altas das taxas de juros e amplia
suas mediadas de segregação e opressão, como o fazem com a repressão aos
imigrantes e ao aumento da presença militar imperialista no globo.
Os
governos de esquerda, notadamente na América do Sul, e, em particular, no
Brasil, representaram uma alternativa, ainda que claudicante, a esta hegemonia
rentista no mundo. O Brasil ampliou seu protagonismo político e econômico
internacional, durante os governos Lula e Dilma (2003 a 2014), a partir da
defesa da multilateralidade das relações internacionais. Essa defesa fortaleceu
a perspectiva de liderança brasileira através da relação negativa com a
unipolaridade exercida pelos Estados Unidos da América. Nesse sentido, a
ampliação do protagonismo do Brasil se deu em um cenário e contexto de
rompimento e erosão do consenso neoliberal na América do Sul, com a eleição de
governos de centro-esquerda na Argentina, Uruguai, Bolívia, Equador, Paraguai e
Venezuela, além, obviamente, do próprio Brasil. Com esses governos, a região
retomou uma pauta de reestruturação do papel articulador do estado e de
desenvolvimento das economias destes países, alicerçado no crescimento do
mercado interno, do incentivo às empresas locais e de inclusão social, além de
uma política externa cujo sentido foi o de questionar o alinhamento automático
com a potência hemisférica hegemônica, os EUA.
Neste
ambiente de reversão do sentido hegemônico das relações internacionais na
região, surgiram ou se consolidaram um conjunto expressivo de iniciativas de
integração e regionalização, de caráter multipolar, os quais criaram dinâmicas
econômicas e políticas que ampliaram, proporcionalmente, o poder de barganha
dos estados sul-americanos. De modo global, as relações multipolares permitiram
aos países emergentes, em via de regra, ampliar sua influência internacional na
relação com os países desenvolvidos. A multipolaridade permitiu uma simbiose de
objetivos entre os países emergentes e, em especial, credenciou o Brasil para
um exercício de liderança regional e global relevante, ainda que limitado.
Trata-se
de um reposicionamento no sistema internacional que busca alterar o peso do
Brasil nas relações internacionais. Em um ambiente político institucional de
questionamento da unipolaridade dos Estados Unidos, os governos do PT
reposicionaram gradualmente o Brasil na arena global. Essas ações não possuíram
capacidade para uma grande ruptura desse sistema.
Entretanto,
mesmo que alternativas parciais, as políticas de autonomia e reposicionamento
internacional dos países sulamericanos forma insuportáveis para o imperialismo
capitalista. Em especial o continente sul-americano foi alvo da intervenção do
imperialismo estadunidense. O sistema militar e de espionagem dos EUA agiram e
agem em todo o continente no sentido de desestabilização dos governos de
esquerda da região, estando na base dos golpes e oposição que estes governos
populares sofreram.
Em
decorrência desta contraofensiva capitalista, vivemos hoje uma defensiva das
ideias socialistas e socialdemocrata no mundo. Os valores humanistas e
civilizatórios estão perdendo espaço para a xenofobia, racismo e preconceito.
Os partidos que se reivindicam do socialismo no mundo precisam, lado a lado aos
movimentos sociais, construir a unidade no combate e resistência ao golpismo e
às políticas de ajuste fiscal e exploração que a direita implementa em todos os
continentes.
QUADRO
POLÍTICO NACIONAL, ESTADUAL E OS GOVERNOS FEDERAIS PETISTAS
Fortalecido com a eleição de Rafael Greca (PMN) à
prefeitura de Curitiba, a quem apoiou na disputa do ano passado, o governador
do Paraná, Beto Richa (PSDB) julga-se fortalecido para impor ao Estado as
políticas de corte de direitos de trabalhadores. Ao mesmo tempo, com respaldo
da política de negócios de extermínio do Estado colocada em prática pelo
governo federal, Beto Richa aproveita para fragilizar as principais estatais do
Paraná, a Copel e a Sanepar, elevando tarifas e fazendo jogadas especulativas com
as ações das duas empresas na Bolsa de Valores.
No controle da Assembleia Legislativa, onde domina
o voto de pelo menos quarenta dos 54 deputados estaduais, Beto Richa tem
aprovado, sem dificuldades, todos os seus projetos. Após um brutal aumento de
impostos, em que elevou a alíquota de ICMS de mais de noventa e cinco mil
produtos, há dois anos, Richa conseguiu sair do buraco financeiro em que se
encontrava. Aliado a um arroxo salarial dos servidores do Executivo, e com
apoio do Legislativo e Judiciário, o governador desmobiliza as categorias de
servidores e arregimenta aliados entre os prefeitos no interior do Estado.
Embora seja considerado um dos governadores mais
impopulares do país, ainda tenta levar adiante um projeto de candidatura ao
Senado, ao mesmo tempo em que acena para uma aliança com o ex-senador Osmar
Dias (PDT), provável candidato ao governo do Paraná. Mas tem que conter dois
“aliados” que também sonham disputar o governo: o secretário de Desenvolvimento
Urbano, Ratinho Junior (PSD) e a vice-governadora, Cida Borghetti, do PP. Cida
tem como seu estrategista o ministro da Saúde, Ricardo Barros, que detém o
comando do PP do Paraná.
Na oposição ao tucano e seu leque de aliados, que
inclui PSD, PSB, PPS, PP, DEM, estão o PT e o PMDB. Mas nenhum dos dois
partidos têm, até o momento, mostrado fôlego para apresentar um candidato ao
governo que possa ameaçar o grupo alojado no Palácio Iguaçu, protegido também
pelo poder econômico do Estado.
O PT, mergulhado no caldeirão de denúncias
midiáticas disparadas pela operação LavaJato, não se manifesta sobre a sucessão
estadual de 2018. Já o PMDB acena com o projeto Requião 2018. Entretanto, o
senador teria plena disposição de tentar uma aliança com o senador Osmar Dias. Este,
por sua vez, que sobreviveu à derrota nas duas últimas eleições ao
governo ocupando cargos nos governos Lula e Dilma, não demonstra tendência a se
juntar a Requião. Ao mesmo tempo que, também não dá sinal verde para os avanços
de Beto Richa.
Neste quadro, o panorama ainda é favorável ao
ocupante do Palácio Iguaçu. E de poucas esperanças para as forças progressistas
locais.
O governador do Paraná com
seu nome na lista do procurador Rodrigo Janot, poderá ter seu projeto
enfraquecido, ainda que os desdobramentos desse processo sejam desconhecidos.
Porém, se vier abaixo a
estrutura montada em torno do golpe, do qual o PSDB e partidos estepe, são
parte central, as perspectivas se alteram para o campo progressista. Para
acelerar ou impulsionar a queda do núcleo do golpe, no Paraná, as forças de
esquerda se articulam para reconstruir uma base popular no campo e na cidade.
Os movimentos de ocupação
das escolas, que atingiu mais de oitenta por cento da rede pública estadual, e
as manifestações de rua, que ganham força a cada dia, com a adesão daqueles
que, inicialmente, embarcaram na narrativa do antipetismo e do golpe, são
sinais de que é necessário e possível recuperar o espaço perdido no desmonte do
projeto progressista no país. No PT, o nosso campo demonstra vitalidade para
reconstruir e unir o partido em torno deste projeto de disputa pelo poder no
Estado e no país.
Atualmente,
estamos vendo o início de uma nova onda neoliberal no Brasil e na América
Latina. Neste momento, basta dizer que é marcada pela entrega de riquezas nacionais
e setores estratégicos de desenvolvimento e ataque sistemático aos direitos e
garantias dos trabalhadores.
Importante
ressaltar que o ex-presidente Lula, assim como a presidenta Dilma, abriu mão de
fazer reformas estruturais importantes, porém, aliou políticas sociais
(aumentos reais do salário mínimo, políticas redistributivas e direitos sociais
históricos), investimentos estatais (Estado com papel indutor na economia
através de infraestrutura, bancos públicos e fortalecimento de empresas, especialmente
a Petrobras), somados a uma política externa proativa e independente (G-20,
BRICs, Banco do Sul, Mercosul, Unasul, motivador político e financeiro para os
governos de esquerda na América Latina e África).
Isso fez
com que, mesmo diante de uma crise global e estrutural do capitalismo, o Brasil
se mantivesse numa fase de crescimento, pois havia aquecido o mercado interno
de consumo das famílias (com emprego, renda e consumo, gerando uma nova classe
trabalhadora) acompanhando o crescimento fantástico dos BRICs, enquanto países
capitalistas centrais entraram em recessão.
Na
verdade, o fato mais relevante da economia brasileira nas últimas décadas tem
sido o ritmo acelerado do processo de desindustrialização. Para se ter uma
ideia disso, é importante considerar que em 1995 a produção industrial
representava 36% do PIB brasileiro, quando vinte anos após, segundo dados
apurados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, ela não
ultrapassa 9%; ou seja, um quarto daquela cifra. Consequentemente, o desemprego
explodiu. Em julho de 2015, o total de desempregados no país somava 8,6
milhões, o número mais alto (em termos absolutos) já assinalado na Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
O Brasil
encontra-se hoje nas mãos dos banqueiros. Os cinco maiores bancos (Itaú
Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander)
controlam 86% do total dos ativos financeiros; quando em 1995 o montante desses
ativos por eles controlados era de 56%. No primeiro semestre de 2015, enquanto
o Produto Nacional Bruto entrava em recessão, o lucro líquido contábil dos
quatro maiores bancos do país crescia 46% em relação ao mesmo período do ano
anterior.
O
desinvestimento, tanto público quanto privado, é um dos piores resultados da
entrega total da economia brasileira ao controle das instituições financeiras,
nacionais e estrangeiras. A Presidenta Dilma tentou um diálogo desde 2011 com o
setor produtivo para manter os investimentos, enquanto o Estado faria sua parte
investindo em infraestrutura, nas políticas sociais e incentivos para manter o
mercado interno aquecido, em diálogo com as pautas dos trabalhadores, porém, o
setor produtivo não respondeu, possivelmente por diferentes razões: juros
rentáveis não incentivam investimentos, crise internacional produz incertezas
e, também por razões políticas, com o intuito de derrotar o PT e a Presidenta
Dilma em 2014 e eleger um governo de matizes neoliberais.
Isso fez
com que o governo se tornasse incapaz de segurar sozinha a pressão da crise
mundial, começando por retirar incentivos como da energia elétrica e
combustíveis e depois adotar uma agenda fiscal que chega a ter características
típicas do período neoliberal.
Portanto,
esse é o pano de fundo das disputas políticas que antecederam o golpe, de um
lado o setor financeiro, cada vez mais hegemônico internacional e
nacionalmente, com apoio da mídia e seguido pelos setores políticos
antipetistas no Congresso, na máquina estatal e na sociedade. Essa é a pauta da
chamada “contrareforma”, ou seja, dos que se contrapõe à reforma
desenvolvimentista conhecida como “lulismo”.
A disputa
simbólica é a operação “Lava-Jato” porque envolve uma empresa que estava
servindo de principal exemplo do modelo “lulista”, a Petrobras: rentável, num
setor estratégico (energia), com alta tecnologia (pré-sal), capaz de financiar
a política internacional e ampliar a força do Brasil no mundo, bem como suas
políticas sociais (além do bolsa família a perspectiva de investimentos dos
royalties do pré-sal em educação e saúde), seriam a coroação e consolidação
desse modelo.
Portanto,
destruir esse patrimônio significa reafirmar que o Estado é ineficiente e
corrupto, e mais do que isso, o PT seria o grande artífice da corrupção
brasileira e deve ser derrotado, destruído e banido da história. Essa frente de
batalha foi a que juntou todos os atores políticos golpistas.
Mas,
consideramos um sério equívoco afirmar a crise que enfrentamos como mera função
dos nossos acertos. Neste momento, mais do que nunca, é preciso que tenhamos
humildade para ouvir e reconhecer os descaminhos de nossa trajetória política.
Não nos
restam dúvidas de que é pelo nosso sentido de classe e políticas antiliberais
que nos constituem como inimigos de classe da burguesia. É por não aceitarem o
pequeno processo de desmercantilização propiciado pelo Bolsa Família; a
mobilidade social que promovemos; a ampliação das possibilidades educacionais
para a classe trabalhadora; a defesa do patrimônio nacional representada pelo
marco regulatório do Pré-Sal e a reorientação da política de investimentos na
Petrobras, dentre tantos outros avanços que promovemos, que somos intragáveis
para direita. Mas são em grande medida nossos erros e contradições que servem
de munição para os ataques que sofremos.
Não há
como contornar o fato de quadros do PT terem transformado a relação promíscua
com a burguesia num fundamento da política, inclusive justificando-a do ponto
de vista estratégico. A operação de descredenciamento e criminalização ampliada
sobre o PT encontrou guarida em fatos concretos que tornaram plausível e
exequível este antipetismo para a maioria da sociedade.
Os altos
índices de violência têm sido instrumentalizados para que sejam trazidas para a
pauta medidas retrógradas, de puro populismo penal, tais como: a redução da
maioridade penal, a revisão do Estatuto do Desarmamento, e o aumento de penas
sem que qualquer dosimetria seja levada em consideração; a crise econômica que
ameaça o poder de compra e os empregos de trabalhadores e trabalhadoras, foi
utilizada para legitimar um golpe de Estado; e os erros enquanto partido e
Governo nos levaram a uma situação de perda de credibilidade junto à população
O forte
apoio popular obtido pelo Governo Lula, no período entre 2006 e 2010, não foi
aproveitado para implementar, mesmo que parcialmente, reformas estruturais que
permitissem uma mudança na correlação de forças políticas. Essas reformas
deveriam ter enfrentado o tema do sistema político e eleitoral, do sistema
financeiro e da política fiscal e tributária, da reestruturação do aparelho de
Estado, do oligopólio privado da comunicação, além da estrutura fundiária no
país.
A
convergência destes erros e destes recuos estratégicos produziu uma incapacidade,
para o PT, de disputar a hegemonia política na sociedade. Gradualmente o
programa efetivamente aplicado no Governo Federal foi se deslocando à direita,
ficando cada vez mais mimetizado com um programa conservador. Na disputa de
valores culturais e éticos, o significado do PT foi definhando e,
progressivamente, perdendo capacidade de afirmação de valores alternativos ao
liberalismo e ao individualismo.
Junto a
nossa então base social, a situação foi ainda mais grave em função das
particularidades da eleição de 2014. Naquele pleito fomos levados a apresentar
as mais nítidas propostas desde 2002. Em que pese o equívoco destas não terem
sido calcadas em um robusto e articulado programa de governo, e sim em
declarações de nossa candidata, isso não apaga suas virtudes.
Em
resposta ao fundamentalismo presente em candidaturas nanicas, mas também na de
Marina Silva, apresentamos pautas como a criminalização da homofobia, o
enfrentamento ao extermínio da juventude negra, e a revisão da lei de anistia.
Em resposta ao neoliberalismo e o entreguismo presente em várias candidaturas,
mas personificado em Aécio Neves, dissemos nenhum direito a menos, defendemos a
soberania nacional, e negamos o projeto de dependência da economia perante a
política, e de retomada das privatizações.
O
imediato descumprimento deste programa colaborou com o crescimento da inflação
e do desemprego. A manutenção de altas taxas de juros e o estabelecimento da
contenção dos investimentos estatais como estratégia de enfrentamento à crise
solaparam o apoio popular ao Governo. Assim, o Governo eleito por pequena
margem de votos e a partir de ampla mobilização popular, contribuiu com a crise
econômica de maneira mais objetiva, e fundamentalmente, com o aprofundamento de
uma crise de legitimidade do PT na sociedade que já nos acompanhava desde 2005,
ao implementar uma política de ajuste fiscal rompendo toda a dinâmica
anticíclica do período anterior.
É preciso
que digamos que se, por um lado, o colapso econômico em plano internacional
produziu uma profunda recessão econômica no Brasil, potencializada por um
Congresso Nacional que inviabilizou o executivo em 2015 por meio das “pautas
bomba” foram as nossas políticas de ajuste fiscal e os erros políticos do
segundo Governo Dilma que possibilitaram uma combinação entre perda de apoio no
Parlamento e na sociedade.
As
eleições de 2016 por sua vez, se deram num quadro de profunda crise econômica,
agravada por uma crise política que resultou no golpe. Foi marcada também por
uma completa desorientação por parte de nossa direção partidária. Tentativas de
manutenção do espectro de alianças conservadora que nos arrancou o mandato
legitimamente eleito da presidenta Dilma, e de ocultação do PT, estiveram
presentes e mostraram-se equivocadas.
Como já
foi apontado, vivemos uma crise de credibilidade junto à população que tem
efeitos eleitorais, mas não será por meio da falta de nitidez ideológica que a
superaremos. Ao negarmos nossa história, esconder o vermelho, nos aliar nas
últimas eleições municipal com setores do golpismo, descaracterizaram nosso
partido e nossa militância, que foi às ruas nos eleger em 2014 e defender a
democracia em 2016.
Não
podemos negligenciar o recado das urnas nestas eleições municipais de 2016, as
primeiras após o golpe da deposição da Presidenta Dilma. Como socialistas que
somos, devemos retomar nossa história, lembrar que antes de optarmos pela
disputa e transformação do aparelho do Estado por meio das eleições, estas eram
utilizadas como meio de propagandear nosso ideário e medir a correlação de
forças na sociedade.
É
preciso, paulatinamente, retomar nossa capacidade eleitoral, mas sobretudo é
preciso que voltemos a compreender os processos eleitorais como meios de
disputa de hegemonia, e que tiremos lições de seus resultados.
Estes foram
péssimos para a esquerda e para o PT. Houve uma redução concreta dos votos
obtidos e a influência dos municípios governados por nós será bastante inferior
à resultante das eleições de 2012. Da mesma forma, os demais partidos de
esquerda não ampliaram sua votação. A vitória do PCdoB em Aracaju e seu
crescimento em parte do Nordeste, assim como o segundo turno do PSOL no Rio de
Janeiro e Belém, são expressões eleitorais isoladas em um contexto de vitória
do PSDB e de candidaturas de pequenos partidos com programa antipopular, que
buscavam se caracterizar como “de fora da política” e, em muitos casos,
fundamentalista de direita.
O quadro
é pior do que seria se fosse apenas a derrota de um único partido da esquerda.
Foram as ideias de esquerda, seus partidos, os valores humanistas, a igualdade
de gênero e raça, o desarmamento e a tolerância, as ideias de justiça e
igualdade, enfim, o ser de esquerda que sofreu um grande revés.
São estes
partidos, amparados no poder judiciário e na polícia, o oligopólio dos meios de
comunicação, que deram formato final ao golpe, dando guarida ao capital
internacional imperialista, à eliminação de direitos e conquistas do povo, à
direita protofascista e a todas as manifestações e organizações de direita do
país.
A
disposição deste bloco conservador empresarial em implementar reformas
antipopulares, de reestruturar a economia de modo a ampliar os ganhos dos
capitalistas sob o empobrecimento dos trabalhadores, faz com que haja uma luta
política no interior deste bloco, entre várias frações, pelo comando do governo
e da direção deste processo.
O grande
empresariado, com sua disposição em implementar as reformas recessivas que
retiram direitos dos trabalhadores e aumentam o desemprego e o empobrecimento,
especula com a hipótese de dispensar seus "procuradores" atuais, como
Renan e o PMDB, para substituí-los por outros representantes de seus interesses
antipopulares, que não estejam tão desgastados aos olhos da classe média
conservadora.
Do ponto
de vista dos trabalhadores e da democracia, a saída para a crise não passa pela
estabilização deste arranjo golpista. Ao contrário, passa pela soberania
popular e por um programa de governo que retome o crescimento econômico, amplie
o emprego e faça um conjunto de reformas antineoliberais e democráticas.
Os
golpistas se unem em uma plataforma de ataque aos direitos dos trabalhadores,
das juventudes e das mulheres, como nos casos da PEC 55, que limita os
investimentos públicos em pauta no Senado, da MP 746, reforma do ensino médio,
e da PEC 287, reforma da previdência, ambas tramitando na Câmara dos Deputados.
Frente a
essa crise, todos os senadores e deputados dos partidos comprometidos com a
maioria do povo, devem intensificar seus esforços para impedir o andamento dos
projetos antipopulares, obstaculizar a pauta do Senado e do Congresso para que
se criem as condições para uma saída democrática para a crise. Devemos retirar
da pauta de votação do Senado, imediatamente, a “PEC do Teto”.
A direita
venceu, isto é um fato. Mas venceu uma direita diferente daquela que
protagonizou o embate com a esquerda durante o período de nossos governos
federais. Assistimos ao surgimento como força eleitoral de uma direita mais
reacionária, antidemocrática e mais combativa e virulenta. Assistimos o
surgimento de um conjunto de organizações ultraconservadoras e ultraliberais
que, filiadas à diferentes partidos e legendas em uma estratégia de
multipartidarismo, apresentou um programa comum calcado no antipetismo e na
disputa de valores ideológicos, sendo ponta de lança da estigmatização da
esquerda e do PT.
Também no
plano internacional há o crescimento de uma direita de novo tipo, nacionalista
e protecionista, que encara as relações internacionais a partir de um ponto de
vista contracionista, o que pode ampliar os confrontos internacionais,
inclusive os armados.
Nesta
esteira, o PSDB se deslocou mais ainda à direita. Sua fração vitoriosa, o PSDB
de Alckmin, é aquela organicamente vinculada ao empresariado mais conservador e
ao capital financeiro e internacional.
O centro
democrático burguês se esfacelou e migrou para a direita, atraído pela força
ofensiva deste programa ultraconservador. A onda golpista tragou setores que
apoiaram o próprio golpe.
Esta
vitória agregou legitimidade política para esta direita aprofundar o processo
de golpe, podendo chegar ao extremo da cassação do registro do PT e da
inviabilização legal do Lula.
Isto
aponta para um quadro de enfrentamento agressivo, onde a pauta das reformas neoliberais,
tem como objetivo reorganizar o processo de acumulação de capital e da
criminalização do PT e dos movimentos sociais. Acabar com toda e qualquer
resistência popular é o centro da ação da direita.
A
esquerda ainda sofre de uma imensa dificuldade de reorganização, em especial o
PT que, a partir de sua maioria, resiste a uma inflexão à esquerda e a uma
construção sincera da unidade dos partidos de esquerda.
Contudo,
se a superexposição dos ataques seletivos da Justiça, Ministério Público e
Polícia Federal ao PT e ao Lula, isolaram politicamente o PT, e possibilitaram
que o antipetismo se tornasse plataforma política coesionadora da direita, não permitiu
seu crescimento eleitoral. O aumento expressivo dos votos brancos, nulos e da
abstenção, que não reduzem a dimensão da crise ou a intensidade do alerta que
este resultado eleitoral deve acender em nós, apresenta uma possibilidade real
de reconquista de parcela expressiva do eleitorado que não encontrou em 2016
alternativas que lhes fossem suficientes para confiar seu voto.
Ainda que
perspectiva da disputa política seja de extrema dificuldade para o PT, e que
provavelmente as eleições de 2018 se deem em um quadro de crise e isolamento
ainda maior que o vivido nestas eleições de 2016. Por outro lado, vários
setores populares, notadamente a juventude, abriram um franco processo de
resistência ao crescimento da direita. Dando combate às contrarreformas
neoliberais do Governo Temer, no campo concreto, como também um amplo
enfrentamento, no campo das ideias e do comportamento, ao fundamentalismo e
obscurantismo crescentes.
UM
NOVO PROGRAMA E UMA NOVA ESTRATÉGIA
Retomar a
estratégia socialista e um programa de reformas democráticas e populares
O próximo
período será de confrontos, luta e resistência democrática, protagonizado por
um novo setor social que não quer recuar das conquistas e dos avanços
conquistados até aqui. Mais do que isto, um setor que espera uma reação dos
demais setores do campo popular e democrático, inclusive dos partidos e organizações
de esquerda, em especial do PT.
A unidade
do PT e a luta por uma mudança profunda no programa e na estratégia é
fundamental para a sobrevivência do Partido como alternativa de massas e de
esquerda. O capital político do PT torna inviável outra alternativa, no
momento, que não seja sua reorientação e sua reaproximação com um programa
democrático e popular de reformas profundas.
Mas a
defesa do PT e de seu capital político não significa submissão aos seus erros.
Ao contrário, significa dirigir-se à base social e política, surgida nas lutas
contra o golpe e pelos direitos e, em conjunto com ela, recriar uma esquerda em
luta. Será o vínculo orgânico com esta geração em luta, aprendendo com ela –
suas narrativas e aspirações –, que efetivamente poderá renovar e salvar o PT.
A pura luta interna não será suficiente para acumular a energia capaz de mudar
mais de uma década de conciliação e burocratização no interior do PT.
A luta
pela reconstrução da esquerda é a luta contra o avanço do neoliberalismo, no
campo político e econômico, e o avanço do conservadorismo e do fundamentalismo,
no campo das ideias.
O papel
estratégico do estado e sua reforma de caráter democrático
As ideias
de justiça, igualdade e, mesmo, da democracia perderam força na opinião da
sociedade, dos setores médios e até mesmo de trabalhadores. A crise de
legitimidade da democracia e de suas instituições cria as condições para o
crescimento de seu contrário, a ideia da ordem e da recuperação da estabilidade
pela via autoritária, dando condições políticas e para o aumento da repressão e
dos cortes de direitos sociais e da implantação de uma economia neoliberal.
O
neoliberalismo nunca é apresentado como ideologia. Os meios de comunicação,
grande parte da intelectualidade e o empresariado fazem parecer e buscam impor
a noção de que o neoliberalismo é um modelo inevitável e democrático de
economia e sociedade.
O
neoliberalismo vê a competição como a característica que define as relações
humanas. Ele define cidadãos como consumidores, cujas escolhas democráticas são
melhor exercidas ao comprar e vender, um processo que premia o mérito e pune a
ineficiência. Também sustenta a ideia de que “o mercado” proporciona benefícios
que nunca seriam alcançados por meio de planejamento.
Tentativas
de limitar a competição são tratadas como inimigas da liberdade. Impostos e
regulamentações precisam ser minimizados e serviços públicos privatizados. A
organização do trabalho e a negociação coletiva pelos sindicatos são retratadas
como distorções do mercado que impedem a formação de uma hierarquia natural
entre vencedores e perdedores. A desigualdade é transformada em virtude: um
prêmio pela utilidade e uma geradora de riqueza, que se espalha para enriquecer
a todos. Esforços para criar uma sociedade mais igualitária são contraproducentes
e moralmente corrosivos. O mercado garante que todos tenham aquilo que mereçam.
Corrupção
e a sonegação tributária como bases do capitalismo e o combate ético e político
a ambas
Abordar
este tema com transparência e com a profundidade que ele merece é chave para
retomar o diálogo com vastos setores da sociedade que foram cooptados pelo
bloco político que se uniu para derrubar o PT do governo e que hipocritamente
novamente se utilizou do tema da ética para voltar a dialogar com as massas populares,
como já havia feito nos aos 50 e 60 para derrubar Getúlio e o Getulismo.
Nos dois
ciclos democráticos do país surgiram lideranças e organizações políticas com
alta capilaridade popular e que deram início a conquistas estruturais de
direitos. Nos dois ciclos, os setores que representam os interesses das elites,
vastamente beneficiados por formas institucionalizadas e pela corrupção,
perderam completamente a capacidade de dialogar com as massas populares. O tema
da ética seletiva foi em ambas às vezes a estratégia utilizada para afastar as massas
dos grupos políticos e suas lideranças.
Essa
estratégia advém de uma doutrina vastamente utilizada pelos EUA desde os anos
50 em operações financeiramente baratas e exitosas para derrubar governos e
movimentos não alinhados em todo o mundo.
Estratégia,
aliás, utilizada massivamente no interior do próprio EUA, com a utilização do
FBI como polícia política, através das operações que procuram difamar
eticamente líderes dos movimentos negros, dos direitos civis, gays, mulheres,
juventude e todos os líderes que se oponham ao status quo.
Mas não é
pelo fato da questão ética ser utilizada como ferramenta para derrubar
governos, que o PT e a esquerda não devam incorporar e fortalecer esse
elemento, não como mero tema de propaganda política, mas como elemento prático
de mobilização social e transformação do país e fundante de um novo modelo de
economia e uma nova sociedade.
Ainda que
a corrupção e a sonegação de tributos públicos sejam anteriores ao modo de
produção capitalista, foi sob o capitalismo que atingiu níveis de escala nunca
vistos. A corrupção e a sonegação se transformaram em mecanismos estruturais de
sobre-acumulação privada de capital e expropriação dos bens públicos em favor
das elites que dominam o estado e hegemonizam a sociedade.
Sob a
proteção de um estado autoritário, obscuro e refratário ao controle público,
mesmo que em uma democracia liberal formal, que a corrupção, associada à
sonegação de tributos públicos, transformou-se em mecanismo de reincorporação
privada do excedente que deveria ser distribuído, através do estado sob a forma
de políticas públicas, à maioria trabalhadora, a qual produziu esta riqueza.
A
manutenção das possibilidades de corrupção e de sonegação desfaz a distribuição
de renda produzida por medidas distributivistas. Portanto, a corrupção e a
sonegação são estruturalmente contraditórias com um programa de esquerda,
minimamente distributivista.
No
entanto, o PT só poderá retomar a ofensiva nesse tema se realmente enfrentar
apresentar uma reflexão sincera e medidas efetivas, éticas e programáticas,
contra estes mecanismos de acumulação privada de capital.
Só vamos
conseguir fazer essa denúncia, se realmente não fugirmos da realidade
inaceitável de que filiados do PT se utilizaram dos espaços de poder,
construídos coletivamente e se apropriaram de forma privada de recursos
públicos, o que produziu uma imensa frustração e indignação em milhares de
militantes históricos, que ao longo dos nossos anos, construíram esse Partido,
com suas melhores energias e até mesmo recursos financeiros, motivados por
sonhos de mudança, das praticas que por séculos expropriaram a riqueza do país
para as mãos de poucos.
A
utilização dos bens públicos para fins privados é uma das marcas culturais mais
profundas da formação do Brasil. A referência das elites exploradoras se
espalhou pelo tecido social e constrangeu a formação de uma consciência
coletiva sobre a coisa pública do Brasil.
Num
ambiente em que as relações de poder estão marcadas por uma cultura da
“economia ilegal”, da riqueza que circula vastamente a margem da legalidade no
país, nenhum Partido político ou organização social está livre de enfrentar
casos de corrupção.
Porém, o
que vivenciamos no Partido foi algo muito mais grave. A crise ética no PT
possui duas grandes dimensões, ambas da mesma gravidade e que precisam ser
enfrentadas de forma específica: uma dimensão coletiva, voltada para
impulsionar a ação política, e uma ação individual, voltada para o
enriquecimento privado.
Disputa
de hegemonia: O novo bloco histórico e suas características
A força
política para a reconstrução do PT e da esquerda deve ser buscada na luta
concreta ao lado destes setores em luta, novos protagonistas do combate ao
conservadorismo. Devemos nos somar à juventude e estudantes das ocupações de
escolas e universidades, contra a reforma do ensino médio e a escola com
mordaça. À luta contra toda forma de discriminação étnica, pela igualdade de
gênero e raça, contra a LGBTfobia, pelos direitos dos trabalhadores e contra a
reforma da previdência! Resistência à escalada da repressão sobre a juventude e
os trabalhadores sem-terra!
Nossos
dirigentes de organizações populares e do PT, vereadores, deputados e
lideranças devem tratar estas como as pautas centrais da luta política. Nesta
conjuntura, barrar o crescimento da direita em todas as suas dimensões e das
reformas neoliberais é lutar contra o golpe de estado em curso.
Assim, é
fundamental que o PT se afirme como oposição classista e programática ao Governo
Temer, sem nenhuma espécie de colaboração à sua governabilidade. Ao contrário,
é fundamental opor-lhe uma contraposição de projetos e denúncias, expondo-lhe o
caráter golpista e suas reais intenções na política econômica.
Desta
luta devemos forjar um renovado programa de rupturas com o neoliberalismo e de
concepção de um novo projeto para o país, construindo uma nova forma de
organização, tanto popular quanto do PT, radicalmente democrática,
participativa, socialista e humanista. Esta nova organização do PT deve ser a
dedução de um programa de rupturas e disputa de hegemonia, para além de reunir
capacidade de governar e vencer eleições. Deve estar baseada na ampla
democracia, com consultas e participação direta da base, na transparência na
condução dos assuntos partidários, com controle amplo das bases sobre a
direção, e organicamente vinculado às lutas sociais, com abertura à
participação direta destes movimentos nas decisões do partido.
Temos
tratado bastante na revisão da política conciliatória, o que é basilar, e o que
se impõe agregar nas ações de um partido reorientado e reorganizado é a
necessidade de disputar hegemonia frente ao crescimento dessa direita
protofascista, misógina, racista e lgbtfóbica, a qual cresceu e se tornou
ofensiva na esteira deste golpe. Queremos voltar a ter força de disputa nos
executivos e parlamentos ou queremos também disputar os corações e mentes para
nosso projeto? Isso deve nos orientar em como agir daqui para frente,
acompanhado de um novo programa e estratégia. Isso requer um partido “para
fora” e não para dentro, requer criarmos instrumentos de comunicação de massa e
requer nova forma de organização partidária.
Um dos
grandes desafios será construir um programa de desenvolvimento e um programa de
reformas articulados entre si. Este novo programa de desenvolvimento terá como
centro uma nova política econômica, agora não mais distributivista apenas, mas
de contra-corrente à austeridade neoliberal e transformação do modelo
econômico, com forte investimento em setores inovadores que signifiquem a
articulação de setores econômicos não rentistas, ou seja, de novas frações de
classe fora do eixo do capitalismo financeiro e das grandes indústrias por ele
capturadas. Com base na sustentabilidade ambiental, inovação e desenvolvimento
de conhecimento autônomo e da reforma fundiária.
Isto
significa uma recuperação do papel do aparelho de estado e sua reforma
profunda. Será preciso uma reorientação do papel do Banco Central do Brasil e
dos bancos estatais para garantir o nível de investimento nesta nova economia.
Para que o aparelho de estado possa cumprir este papel terá que sofrer uma
profunda reforma de caráter democrático, quebrando o núcleo conservador que
dirige este estado contra a maioria, colocando sob maior controle popular e
público, com a mobilização constante da maioria do povo através de instrumentos
de eleição direta, consulta e plebiscito. Os poderes judiciários e legislativo
terão que se reestruturar e submeter-se à soberania popular. Com a
implementação da eleição direta para chefe destes poderes e revogabilidade dos
mandatos. Também será necessário quebrar o oligopólio privado dos meios de
comunicação. Uma reforma política e eleitoral que valorize a soberania da
vontade popular e não as formas indiretas de decisão.
O PT e as
Eleições 2018: Lula Presidente e a Frente Popular
Isto
aponta para um quadro de enfrentamento agressivo, onde a pauta das reformas
neoliberais, cujo o objetivo é reorganizar o processo de acumulação de capital
e da criminalização do PT e dos movimentos sociais, cujo objetivo é acabar com
a resistência popular, são o centro da ação da direita.
A
esquerda ainda sofre de uma imensa dificuldade de reorganização, em especial o
PT que, a partir de sua maioria, resiste a uma inflexão à esquerda e a uma construção
sincera da unidade dos partidos de esquerda.
Ainda que
perspectiva da disputa política seja de extrema dificuldade para o PT, e que
provavelmente as eleições de 2018 se deem em um quadro de crise e polarização
ainda maior que o vivido nestas eleições de 2016, há uma parcela da sociedade
que já se dá conta do engodo político do impeachment. Há vários setores
populares, notadamente a juventude, que abriram um franco processo de
resistência ao crescimento da direita, dando combate às contrarreformas
neoliberais do Governo Temer, no campo concreto, como também um amplo
enfrentamento, no campo das ideias e do comportamento, ao fundamentalismo e
obscurantismo crescentes.
A grande
da tarefa da esquerda e do PT, em particular, é a articulação de uma frente de
partidos e movimentos em torno de um programa de reformas populares
antiliberais e de denúncia do ataque aos direitos dos trabalhadores em curso.
Tal
plataforma democrática radical deverá retomar aquilo que o PT abdicou nos
últimos anos, disputar hegemonia, em torno da justiça, do socialismo, do
igualitarismo, do feminismo, da sustentabilidade e do desenvolvimento. O
combate e a denúncia do capitalismo predatório e destrutivo são dimensões
inalienáveis desta luta cultural.
Este
conceito estratégico, democrático radical, deve-se complementar com uma forte
defesa da soberania nacional e da riqueza do povo brasileiro. A defesa
intransigente do patrimônio estratégico do Brasil, como a defesa da Petrobras e
do pré-sal, além da defesa dos recursos e do patrimônio ambiental e natural do
país são chaves na construção desta aliança. O componente nacional é chave na
defesa da democracia.
Ao
constituir esta Frente o PT deve apresentar a candidatura Lula à Presidência
como efetivo instrumento de inversão da pauta de debates da política brasileira
em favor de uma contraposição de projetos entre o desenvolvimento e a igualdade
e o rentismo.
UM
PARTIDO DE LUTAS, DEMOCRÁTICO E SOCIALISTA
O papel
do PT e da esquerda
O Partido
dos Trabalhadores tem uma trajetória única no mundo. Um partido plural, formado
por diversas organizações que lutaram contra a ditadura, intelectuais,
movimentos, artistas e uma parcela da Igreja católica formaram o que seria em
poucos anos o maior partido de esquerda da América Latina. Uma trajetória
meteórica, onde em pouco mais de duas décadas assume o governo central do
Brasil.
Mas há
algo que assemelha o PT aos outros partidos de trabalhadores do mundo. Todos
aqueles que foram ao poder viveram intensas contradições. Da reforma da
previdência proposta pelo Lula até a centralidade do Partido na
institucionalidade causou um afastamento da sua base histórica e uma
preocupação desmedida pela governabilidade.
Seria
leviano dizer que facilitamos o golpe de Estado, mas é verdade que ao nos
afastarmos dos movimentos sociais, subvalorizar o judiciário indicando como
ministros inimigos de classe e deixando de fazer reformas estruturais geramos
um ambiente mais profícuo para os usurpadores deixarem de se contentar com
acordos e quererem tomar de volta o poder central do Brasil. O golpe nesse
sentido é fruto dos nossos acertos – quando diminuímos a desigualdade gerando
ódio de classe – mas é também pelos nossos erros.
Os
resultados das eleições municipais deste ano, a continuidade da perseguição
policialesca e política ao PT e ao Lula, a implementação de medidas recessivas
e antipopulares como a “PEC da morte”, o início da implementação das
privatizações, a entrega do “pré-sal”, a reorientação da política externa em
favor da subordinação aos Estados Unidos, o “escola sem partido” são, entre
outras, demonstrações do real sentido do golpe institucional em curso no país
para as elites brasileiras e imperialistas: retomar o controle absoluto sobre o
aparelho de estado e com isto garantir a acumulação privada de capital em uma
nova onda de supremacia da direita neoliberal no país.
Exatamente
pelo caráter estrutural e classista deste golpe, que a esquerda não pode se
iludir sobre sua extensão. O golpe não se concluiu com a deposição ilegítima da
Presidenta Dilma Rousseff, ele continua em curso e seu objetivo é a aniquilação
política da esquerda brasileira e de sua maior liderança social, Lula. Está na
pauta a extinção do PT, a criminalização dos movimentos sociais, a prisão do
Lula e sua inelegibilidade e a construção de uma narrativa falsa sobre a crise
do país. Na arena da luta de classes, na luta contra o desmonte das políticas
sociais e o arbítrio promovidos pelo governo golpista, a direita não se
contentará em ganhar por pontos, ela visa o nosso nocaute.
O ritmo das
medidas neoliberais do governo golpista permanecerá acelerado. Para refrear a
agenda de retrocessos e ataques que estamos vivendo é fundamental que
consigamos vencer a leniência expressa pela atual maioria do Partido,
reposicionar o PT frente aos desafios do presente e intensificar a agenda de
atos, manifestações e ocupações que estão acontecendo em todo país. A agenda da
resistência ainda tem muito espaço para crescer pois a maioria da população
ainda não pôde perceber ou sentir os efeitos das medidas reacionárias que estão
sendo adotadas. Os milhões que ascenderam socialmente nos últimos anos não
aceitarão retroceder pacificamente à posição em que estavam.
A unidade
dos partidos de esquerda, a defesa dos movimentos sociais, a convocação de uma
nova geração de ativistas à política e a reconstrução de um programa
democrático e popular com capacidade hegemônica, é essencial para a virada e
superação deste ciclo de ofensiva conservadora e fascista que ocorre no mundo.
É preciso apresentar sinais de mudança, acenar para sociedade que nossa opção
frente a crise e ao golpe não é pela reconciliação com as elites. O sentimento
da esquerda que está na luta de resistência não é o de reconciliar a luta de
classes que foi acirrada. E, para nossa sobrevivência, deveremos amplificar a
revolta popular e ter nitidez programática para não repetir os erros que
contribuíram para nos trazer até aqui.
Se o PT é
hoje o alvo dos ataques mais contundentes que a direita já promoveu desde a
ditadura civil militar, é porque seu papel estratégico na construção de uma
sociedade democrática e igualitária ainda não se esgotou. Porque ainda guarda a
energia de um partido de esquerda nascido, não em cartórios tampouco no
parlamento, mas da luta social e da resistência da esquerda popular. O PT pode,
ainda, ser o Partido que contribuirá para organizar o pessimismo e a indignação
popular. Para isso, deverá esquivar-se do imobilismo conservador que a ausência
de direção política acarreta, e do voluntarismo cego dos que creem que a
solução para crise pode ser vislumbrada a partir de nomes, em um movimento
messiânico.
O PT vive
uma crise sem precedentes em sua história. É alvo de um profundo e virulento
processo de desconstituição, o qual poderá levar ao seu próprio
desmantelamento. Porque então “lutar por ele”? Qual a relevância de se fazer um
balanço da trajetória do PT? Enfim, qual a importância do próprio PT?
As
respostas a essas perguntas derivam de uma questão chave para a disputa de
hegemonia política: o PT ainda não esgotou sua dimensão histórica para os
trabalhadores brasileiros e para a esquerda latino-americana, ao menos. Dois
desafios políticos mantém esta atualidade, a manutenção da luta contra o golpe
de estado no Brasil e a possibilidade da candidatura do Lula à presidente em
2018. O PT, enquanto perdurarem essas possibilidades, ainda manterá um capital
simbólico e político muito relevante e se manterá como um protagonista da luta
democrática, mesmo com as derrotas duras que vem sofrendo.
Esta
mesma leitura explica a guerra de aniquilamento, contra o PT e o Lula, levada a
cabo pela direita. Talvez seja ela, a direita, que melhor reconheça o
significado e peso do Partido dos Trabalhadores na política brasileira, o que
explique a luta de aniquilamento empreendida para remover o PT do caminho de
seu projeto de classe. Sem o PT, ficaria aberto o campo político para uma
reforma profunda do Brasil sob o programa neoliberal, com a desnacionalização
da economia, a redução dos direitos trabalhistas e com a transferência do
controle do patrimônio estratégico do País, como a tecnologia e as reservas
minerais e ambientais, para empresas globais, além de um imenso mercado
consumidor e produtor. A transição do programa distributivista de Lula e Dilma
para o programa de ajuste neoliberal está sendo e continuará sendo feita de
forma impositiva a exemplo das políticas de ajuste e austeridade impostas pelo
FMI e União Europeia à Grécia, Itália e Portugal e que começa a ser imposta,
igualmente, na Argentina e Paraguai. Esta transição, com o corte de direitos,
se dará com base na repressão à resistência popular, na maioria conservadora no
Congresso Nacional e em um forte apoio da mídia empresarial brasileira. Remover
o PT é chave neste intento.
Com todos
os equívocos e omissões, no que diz respeito às disputas estruturais sobre a
estratégia de desenvolvimento do país, o PT ainda é, cada vez com menor
capacidade e legitimidade é preciso reconhecer, uma referência de um bloco e um
programa antiliberal e antifascista no país, é uma organização com força
indispensável para essa resistência. Ainda é tido pelos grandes movimentos
sociais brasileiros, como MST, MTST, CUT entre outros, como um “companheiro” a
ser defendido.
Partido
de combate e de lutas populares.
Partido
com programa. O PT só continuará tendo relevância para a sua classe e para os
seguimentos populares se voltar a atuar por seu Programa. Os últimos anos foram
marcados por uma atuação exclusiva frente a conjuntura, frente aquilo que é
possível fazer no Governo. É preciso o contrário, um programa popular por
reformas estruturais que oriente sua militância para o máximo tensionamento das
possibilidades que o sistema capitalista apresenta, tendo como horizonte
estratégico a ruptura para o socialismo. A Reforma Agrária, o fortalecimento da
agricultura agroecológica, a Reforma Urbana, a forte taxação do sistema e das
transações financeiras, a redução da jornada de trabalho sem redução de salário
e a radical crítica às desigualdades e ao modelo vigente de produção, que
coloca em xeque a sustentabilidade ambiental, são exemplos de tensões que devem
hierarquicamente orientar nossa atuação;
Partido
com horizonte estratégico socialista. Que o PT atualize imediatamente sua
leitura sobre a etapa atual de desenvolvimento do sistema capitalista, que
continua a produzir bárbaras desigualdades e crises nacionais em nome da
acumulação de capital, e promova uma profunda reflexão sobre o papel do
movimento social, do Partido e do Governo em sua atuação nacional e na América
Latina. Nosso papel é caminhar sempre em direção ao socialismo, entendido
enquanto controle social sobre os meios fundamentais de produção, da saúde, da
educação, do transporte de massas e de segurança. Não é possível continuar
convivendo em um sistema que corrói o planeta e seu meio ambiente, que corrói a
qualidade de vida da humanidade e que, em 2016, fará com que a riqueza de 1% da
população ultrapasse a dos outros 99%. E aos que acham antiquado falar em
socialismo, afirmamos que o capitalismo não pode ser visto como estágio supremo
da evolução humana!
Partido
com adversários e aliados claramente definidos. O que parece óbvio acaba por
não ser tão simples. Evidentemente que nossos inimigos são o fascismo (sim, é
preciso incluí-lo frente a recente conjuntura), a burguesia predatória, o
grande capital e o sistema financeiro. Porém, suas derivações e propostas se
apresentam sob formas ardilosas, com forte apoio dos oligopólios de
comunicação, que fazem confundir a classe trabalhadora e a população.
Recentemente, junto à tentativa golpista de ataque à democracia, uma série de
retrocessos ganharam espaço no vácuo de nosso desgaste. Para repactuar o
diálogo da esquerda com o povo é fundamental o alinhamento do PT com uma grande
agenda de unidade nacional forjada em conjunto com os movimentos sociais
através da Frente Brasil Popular, nossos reais aliados no projeto de
transformação do país. Vale lembrar que o PT não é um canal de mediação
(vocação de governos), sobretudo porque faz “parte de uma parte”, a medida em
que tem lado, tem classe, tem adversários e aliados;
Partido
ousado na defesa dos direitos humanos. É preciso avançar na compreensão de que
a luta de classes não está somente no conflito capital-trabalho, mas também na
luta das mulheres, dos negros e negras, da população LGBT, dos indígenas, dos
imigrantes, da população em situação de rua, dos direitos das crianças e dos
adolescentes, pelo envelhecimento saudável, enfim, de todos e todas que são
alvo da opressão, da violência, da injustiça e da desigualdade. A luta de
classes também se expressa em uma visão espúria que defende que algumas pessoas
são dignas de serem tratadas como seres humanos e outas não, e é exatamente
isto que se expressa através da cultura do ódio.
Mais que nunca é hora de
afirmar que o problema não está nos pobres, mas na pobreza; não está nas
pessoas com deficiência ou sofrimento psíquico, mas na exclusão e falta de
acesso e oportunidades; não está nas mulheres, mas no machismo; não está nos
negros e negras, mas no racismo; não está naqueles que querem a liberdade de
amar, mas na LGBTfobia. Trata-se de formar uma sociedade que queira e lute por
aniquilar com a exploração, a miséria, o preconceito, a violência! Não é à toa
que, na crise, a principal agenda de nossos adversários é fazer retroceder
agendas trabalhistas e, notadamente, agendas de Direitos Humanos. O PT e seus
governos não podem seguir recuando nessa pauta e ceder aos fundamentalismos,
independente do ataque ou das pressões que sofra dos setores mais
conservadores. Além de toda a agenda “tradicional” dos Direitos Humanos, o PT deve
reafirmar sempre sua defesa do internacionalismo, através do apoio a todos os
povos que lutam por sua emancipação e desenvolvimento social; a defesa da paz,
através da solução negociada dos conflitos internacionais e do desarmamento
nuclear de todos os países; encarar verdadeiramente o debate sobre a
descriminalização e a regulação das drogas, que poderá diminuir o poder
econômico das organizações criminosas e a espiral de violência que assola o
país; a firme defesa da liberdade religiosa no Brasil, o enfrentamento ao
desrespeito e a intolerância religiosa e a reafirmação da laicidade do Estado;
a defesa da educação como um direito humano e emancipatório, não um objeto de
mercantilização ou de infusão de valores da sociedade do consumo; a
descriminalização do aborto, com garantia de atendimento pelo SUS e da
autodeterminação da mulher sobre o seu corpo; a extinção do serviço militar
obrigatório, além da desmilitarização das polícias, com o fim dos autos de
resistência; e sua luta contra o genocídio da juventude negra. Para nós, a luta
pelos Direitos Humanos é central na construção do socialismo e o PT deve ser
ousado em seu discurso e em sua prática neste tema.
Partido
com novo olhar sobre os movimentos sociais, populares e sindical. O mundo tem
assistido, na última década, a formação de um novo tipo de movimento social e,
mesmo, de um novo comportamento coletivo: os indignados. Há uma transformação
do ativismo contemporâneo, uma geopolítica de indignação global. Quando menos
se esperava essa geopolítica apresentou seus efeitos ao Brasil em 2013, a
partir da luta dos estudantes pelo passe livre no transporte público, e tem
gerado um rompimento de estruturas e uma crise de representação que fazem
surgir novos tipos atores, não só na juventude. Com este novo cenário, o PT
entrou em certa crise de compreensão, afinal, não dá para ser comandante do
motim e, ao mesmo tempo, comandante do navio. Para compreender os movimentos
sociais atuais temos que lhes perceber como um iceberg. A parte visível são os
protestos, os repúdios, enfim, os escrachos. Mas tem uma dinâmica interna que
fica subsumida. São movimentos de transbordamento, que sempre querem ampliar
suas pautas, mas que quando chegam no ápice em seu diálogo com a sociedade, na
rua, acabam se defrontando com questões mais complexas e a indignação, por
vezes, não se transforma em projeto coletivo. Entender os diversos modelos de
organização social e popular no Brasil é algo central à construção de um
partido de esquerda e o nosso PT deve estar em permanente construção. A crise
do capitalismo iniciada em 2008 continua a gerar desigualdades em escala
crescente e não apenas com vieses econômicos e sociais, mas que se materializam
também através da cultura e do preconceito. Acreditamos ser fundamental a
atuação nos diversos movimentos sociais e populares, seja na luta urbana ou
rural, contra o latifúndio nacional e internacional, seja nas lutas
comunitárias e nas periferias, onde os movimentos sociais são um “braço”
importante para a superação destas desigualdades, buscando criar aproximações
entre os movimentos tradicionais e estes, de novo tipo, dos indignados. Além
disto, precisamos apostar na renovação partidária e sindical, que passa pelo
fim das reeleições indefinidas, com limitação da continuidade de dirigentes em
suas direções, além de lutar por mais investimentos em políticas públicas ao
mundo do trabalho, autonomia e liberdade sindical, além do fim do imposto
sindical obrigatório.
Partido
da juventude e da renovação. Um dos maiores desafios do PT é disputar a juventude
brasileira com os valores da sociedade do consumo, em uma disputa sobre a
hegemonia cultural do capitalismo, onde a ideia de solidariedade está apartada
da vida em sociedade. Ao mesmo tempo, o fato de ser governo no país aumenta a
responsabilidade do Partido e de seu Governo em oferecer razões e apresentar
uma agenda de novos direitos para a juventude, sinalizando que esta é
protagonista do nosso projeto estratégico. É a partir destes elementos que o PT
e os movimentos sociais se renovarão e se conectarão com a atual geração de
jovens. Por isso, defendemos que o PT construa uma Frente de Massas Autônoma,
Libertária e de Luta, capaz de formar uma combativa militância identificada com
nosso programa, mas com autonomia política que lhe dê condições de apresentar
suas formulações críticas e pressionar o partido e nossos governos à esquerda.
Radicalidade
democrática
Defesa da
democracia, do poder popular, do PT, da soberania nacional, da Petrobrás e do
Pré-Sal. As tentativas golpistas recentes nos fazem recordar que 1964 não é tão
distante assim. A defesa da democracia e da valorização da política está mais
do que na ordem do dia. Porém, para o PT, a Democracia e a construção do poder
popular nunca foram algo formal, mas sim um processo vivo de constante evolução.
Defendemos a democracia participativa, o financiamento público e exclusivo das
campanhas, o voto no partido e um Congresso Unicameral. Defendemos uma Política
Nacional de Participação Social seja aberta a referendos, plebiscitos,
participação popular na definição do orçamento e que se realize a
democratização dos meios de comunicação, fortalecendo instrumentos alternativos
para a comunicação com a sociedade que hoje é refém dos grandes oligopólios.
Defendemos
também a democratização do judiciário, através de eleições e mandatos
definidos, em todos os níveis. Mas para além disso, é preciso construir os
instrumentos do poder popular, da participação direta de massas enquanto
sujeito ativo no controle das políticas públicas e no controle do próprio Estado.
O Estado, no regime capitalista, serve, em última instância, aos interesses do
capital e para a repressão dos de baixo e, justamente por isso, é fundamental
mantê-lo sob profundo controle social, direta ou indiretamente. Por outro lado,
a defesa do PT é atualíssima não apenas frente aos ataques da burguesia, mas
também porque é necessário um partido vinculado ao mundo do trabalho e aos
movimentos sociais, socialista e de intervenção unificada nestes movimentos,
com profundidade democrática e ética nas relações internas e no exercício de
mandatos e funções. Defendemos a soberania nacional e as riquezas geradas pelo
petróleo e, ainda, um entendimento de que a República deve ser compreendida
como o compromisso com o bem comum;
Transparência
e o combate à corrupção e aos desvios éticos
Nessa
perspectiva, refletir sobre a questão ética é refletir profundamente sobre
nossa forma de organização política. O formato vertical e de ambientes internos
ocupados por uma burocracia partidária, só ela detentora de chaves reais de
poder já não é compatível com as novas energias sociais transformadoras que
brotam nas ruas. Nosso modelo de uma democracia interna formal, já não é mais
suficiente se realmente quisermos impulsionar uma revolução organizativa,
modificando mais do que estatutos ou normas, a nossa cultura interna, e
efetivamente horizontalizando e democratizando as relações de poder
partidárias, como devem ser as organizações da nova geração anticapitalista em
surgimento.
Embora a
política não se confunda com a ética, com a moral ou com o direito, e seja
inerente dela as vicissitudes das relações humanas, a organização política do
século 21 deve primar por fazer a portas fechadas apenas aquilo que possa ser
compartilhado na praça pública. Embora a existência de uma direção forte e com
efetiva capacidade de ação política continue a ser um elemento fundamental,
essa direção não pode se considerar acima da “base” partidária, e apenas ela
detentora de um conjunto de informações tão estratégicos que a autorize a fazer
“acordos secretos”.
Nossa
força deve sempre brotar das ruas, da transparência e da luta pela distribuição
pública dos recursos públicos. Embora continuemos a ter um acúmulo político
enorme, advindo de nossas origens sociais, precisamos admitir que também
passamos a utilizar o fisiologismo como método de governabilidade política, o
que também pressupõe relações de privatização dos espaços públicos fora de
acordos programáticos.
Precisamos
efetivamente construir um novo modelo organizativo para dele reconstruir nossa
legitimidade social e assim estruturar, pela primeira vez desde nossas origens,
um sistema de financiamento coletivo. As pessoas somente colaborarão se puder
efetivamente influenciar nas decisões, não apenas elegendo direções, mas
participando elas mesmas dos processos mais difíceis de tomada de decisão
política.
Por isso
a estrutura partidária não pode ter uma direção burocratizada, uma elite
partidária mas a fonte de legitimação dessa direção deve ser realimentada em
todos os processos de decisão.
Somente
essa profunda remodelação, praticamente um renascimento interno de nossa
organização pode demonstrar que efetivamente reconhecemos os erros que
cometemos e com eles aprendemos algo.
A atual
direção é uma decorrência da estratégia posta em prática pelo PT, na luta
social, no embate político e no governo federal, desde 2002. Buscou liderar uma
ampla coalizão de forças com setores da burguesia e partidos conservadores, sem
disputar a hegemonia política na sociedade, sem disputar um programa para esta
coalizão. Disputar a hegemonia sobre a opinião pública e a posição política da
população atendida pelos avanços sociais dos nossos governos, deveria ter sido
uma tarefa central. Para isto, não poderia ter contornado o enfrentamento e a
mudança radical das estruturas estatais e jurídicas, criadas ao longo de
décadas de domínio conservador sobre a política brasileira.
Ao achar
desnecessário disputar hegemonia, abdicou da ideia das reformas,
substituindo-as por políticas compensatórias de grande vulto e capacidade de
distribuição de renda sem, no entanto, enfrentar os núcleos de reprodução da
força da direita no país, a propriedade privada, o monopólio da comunicação, o
sistema financeiro, o sistema político e a organização do estado.
Trata-se
de uma direção política desarmada, a qual se viu perplexa e atônita em todo
este processo onde a direita retomou a ofensiva, pois abdicou do reconhecimento
da luta de classes no país e de compreender suas manifestações. Tardou a reconhecer
que havia, em curso no Brasil, um golpe de estado jurídico-parlamentar,
executado através de uma ruptura constitucional, e sempre tratou de obstruir e
travar uma reação mais ofensiva do Partido. O que teria permitido um nível
maior de resistência ao impeachment e ao processo de perseguição política
levada à cabo por setores da burocracia judicial e policial e pela elite
conservadora. A direção política do PT, tanto em suas instâncias quanto no
governo, sempre operou de modo a desarmar qualquer contra-ofensiva em termos de
denúncia e enfrentamento do golpe, sempre optando por uma colaboração com
setores conservadores e liberais que, afinal, nunca veio.
Ainda
sobrevivem, em um setor burocratizado na direção do Partido, expectativas sobre
a normalização natural da política brasileira, o que se torna, a cada dia que
passa, mais improvável e insustentável na medida em que avançam as ações de
criminalização do PT e do Lula e se materializam as contra-reformas
neoliberais. A luta prática que este núcleo burocrático da Direção Nacional
empreende, neste momento, é pela obstaculização das possibilidades de reformas
no PT e pela sua própria manutenção. Este não é o espírito da base do Partido,
inclusive da base do campo que sustenta esta maioria da direção política e de
muito de seus dirigentes, os quais já perceberam a dimensão da crise que
envolve o PT. O que não precisamos é de uma direção voltada para o internismo,
exclusivamente voltada à sua sobrevivência.
Há no PT,
e na esquerda fora dele, um debate latente e manifesto de balanço destes trinta
anos e as causas desta impactante crise política, além do debate sobre seu
rumo. A convocação organizada de sua militância para este debate é essencial
não só para a formulação de uma nova estratégia para a defesa da democracia e o
enfrentamento ao neoliberalismo como para a reaglutinação dos ativistas do
partido e dos movimentos populares. A mais recente reunião do Diretório
Nacional do PT convocou o 6º Congresso Nacional do Partido não sem polêmica e
discordância quanto à sua pertinência e sobre as formas de eleição de seus
delegados. O núcleo que dirige a maioria desta Direção Nacional se colocou
contrário à convocação de um congresso amplo no PT, os demais setores da
direção assimilaram a proposta apresentada pelo presidente Rui Falcão de
convocação do 6º Congresso, com delegados eleitos em um processo de encontros
municipais, desde a base, com poderes plenos, observada a defesa do PT, para
discutir e pactuar uma nova estratégia e uma reorganização do Partido assim como
o modo pelo qual escolheremos sua nova direção.
O esforço
para impedir a instalação de um congresso de plenos poderes, portanto de ampla
abrangência política, não nos permite outra leitura possível que não o de
impedir um balanço crítico de sua política e o surgimento de uma nova direção,
ainda que mediada e composta com setores críticos dessa mesma maioria. Há,
nessa maioria, setores que se dispõem a debater uma repactuação política no PT
e reerguê-lo.
Os
procedimentos e as formas desta pactuação são decisivas para a profundidade e
eficácia das mudanças no PT. A simples convocação de uma eleição entre
filiados, nos padrões do sistema eleitoral brasileiro para a eleição da direção
e dos delegados ao 6º Congresso, terá como resultado aprofundar a falência da
atual estratégia e manter o poder burocrático de um círculo muito restrito de
dirigentes, os quais não representam nem mais a maioria do Partido, muito menos
sua totalidade. Este mecanismo de consulta, neste momento de crise de
insolvência da direção, se transformaria em um instrumento meramente
demarcatório, burocrático, inadequado para o momento de crise profunda que
vivemos, pois não permite o debate, apenas a instrumentalização de blocos
impermeáveis para medir-se seu tamanho. A demarcação pura é a extinção e
abdicação da mediação da política para construirmos a unidade em torno de um
programa e uma estratégia que reoriente o PT e o faça reassumir seu
protagonismo, em novas bases, na disputa de hegemonia na sociedade.
Precisamos
de mecanismos de concertação e diálogo no PT, que criem uma nova elaboração
pactuada entre todos, na exata medida da crise profunda em que vivemos.
Mecanismos que envolvam e convoquem toda a base do PT, inclusive estes
movimentos e os novos ativistas que foram às ruas em defesa da democracia.
Precisamos de uma nova base programática e uma nova estratégia que sirva como
pactuação da unidade no Partido e não a demarcação sectária e congelada
proposta por alguns dirigentes nacionais, a qual levará a consolidação da
diminuição política do PT. Por isso o Congresso, com delegados eleitos na base,
ainda que com os limites desta crise, é o melhor círculo político que se possa
criar para estabelecer uma nova pactuação para virar o jogo.
Este é um
momento de resistência onde a unidade e a reorientação política do PT são
chaves para superarmos o acantonamento ao qual fomos submetidos nestes dois
últimos anos. Esperamos ultrapassar esta barreira burocrática que impede a
reorientação do PT e sua preparação para enfrentar a conjuntura. Cada manobra,
cada postergação, cada inação, significa mais dificuldades e mais decepções na
base militante do Partido e dos movimentos sociais.
Esse
impasse político vivido no PT serve apenas à fragmentação e ao colaboracionismo
com a direita no Congresso Nacional. Não serve ao PT, tampouco à esquerda
combativa, enfim, não serve aos nossos objetivos de retomarmos a ofensiva na
política. O PT precisa seguir vivo e relevante para evitarmos o pior para a
classe trabalhadora. Não há, nesse contexto, organização capaz de substituí-lo
na esquerda brasileira. Mas se não houver uma clara superação do modelo de
condução do partido, orientada por referências estratégicas e que seja visível
aos olhos dos setores organizados do movimento social e da população em geral,
o PT perecerá, sem nada substancial para substituí-lo por um largo período.
Existe
uma crescente constatação dentro do PT que aponta o início do Processo de
Eleições Diretas como o principal responsável pelo enfraquecimento das
instâncias de base do Partido. O PED se tornou instrumento que visa quase
exclusivamente o controle da máquina partidária em detrimento, consciente ou
não, a articulação de luta social. É urgente a revisão do PED, não com a volta
pura e simples do modelo congressual, mas com a criação de novo mecanismo que
combine a participação direta do filiado na escolha das direções, com a
característica congressual que é a da formação de um espaço capaz de gerar
debate político e concertação de forma simultânea. Também defendemos que o PT
agregue no seu funcionamento as formas de participação que defende na Reforma
Política, como plebiscitos, referendo e consultas que devem ser convocados sob
diversos temas, onde a militância do PT deve ser convocada também para definir
as posições políticas do Partido.
AO
CONGRESSO MUDAR O PT
O PT,
ainda, possui força e densidade para ser o Partido que organizará a indignação
popular. Contudo, para estar à altura deste desafio histórico deverá
esquivar-se do imobilismo conservador que a ausência de direção política acarreta,
e do voluntarismo cego dos que creem que a solução para crise pode ser
vislumbrada a partir de nomes ou de legendas. A conjuntura não abre espaço nem
para resignação passiva nem para o devaneio ingênuo, mas sim requer um amplo e
democrático processo de debate e reorientação estratégica.
É certo
que são enormes as mudanças que o PT precisará fazer para ser capaz de
sobreviver e ser referência para um programa transformador no Brasil, mas quem
vai decidir se o PT acabou ou não é a sua relevância para classe trabalhadora e
a base partidária, para isso ela precisa ser ouvida, participar do debate e
contribuir na definição dos novos rumos.
Para
refrear a agenda de retrocessos e ataques que estamos vivendo teremos que
vencer a leniência expressa pela atual maioria do Partido, reposicionar o PT
frente aos desafios do presente e intensificar a agenda de atos, manifestações
e ocupações que estão acontecendo em todo país.
Espantosamente
ainda sobrevivem, em um setor burocratizado na direção do Partido, expectativas
sobre a normalização natural da política brasileira, o que se torna, a cada
dia, mais insustentável na medida em que avançam as ações de criminalização do
PT e do Lula e se materializam as contrarreformas neoliberais. A luta prática
que este núcleo burocrático empreende, neste momento, é pela inviabilização das
possibilidades de reformas no PT e pela sua própria manutenção na burocracia
partidária.
A
resistência apresentada ao chamamento do Congresso e a busca por impedir seu
caráter plenipotenciário e, portanto, de ampla abrangência política não
corresponde ao espírito da base petista, inclusive da base do campo que
sustenta esta maioria da direção nacional e de muito de seus dirigentes, os
quais já perceberam a dimensão da crise que envolve o PT e sabem que, caso a
guinada à esquerda não aconteça, poderão não ter mais Partido para dirigir.
Nossa
luta e militância será para que o Congresso seja verdadeiramente capaz de
produzir uma nova elaboração pactuada entre todos, na exata medida da crise
profunda que vivemos. Esse Congresso precisa efetivar um balanço autocrítico
que nos possibilite um diagnóstico profundo dos erros e acertos que nos
trouxeram até aqui. Deve consolidar uma nova estratégia, um novo programa e uma
nova forma de organização do Partido. Deve também ser capaz de eleger uma
direção sintonizada com esse novo momento do PT.
Enquanto
a perseguição ao Partido se aprofunda, proliferam-se as polêmicas em torno das
questões secundárias. Leiloam-se nomes, debatem-se formas de eleição das direções,
mas não se discute o fundamental: a estratégia, os rumos, a organização, o
balanço e as novas tarefas do PT frente a atual conjuntura. Isso é o basilar e
para isso queremos um congresso real, democrático e militante.
Os que
fogem do debate do congresso, os que tentam interditar a autocrítica e a
rediscussão estratégica do Partido, os que almejam eleger direção sem debater o
programa, precisam saber que todos e todas nós, petistas, estamos envolvidos
hoje na mesma encruzilhada, condenados a ter êxito ou a fracassar juntos. O
momento é de mostrar que rompemos com o pacto da conciliação de classes e nos
constituirmos enquanto instrumento de potencialização da revolta popular.
Não
estamos dispostos a abrir mão do PT, ao contrário, queremos reorienta-lo frente
ao atual período histórico. Um racha no PT é o sonho da direita que comandou o
golpe no país e esta direita, através das medidas que vem implementando, está
nos chamando para guerra. Lá fora, na arena da luta de classes, na luta contra
o desmonte das políticas sociais e o arbítrio promovidos pelo governo golpista,
a direita não se contentará em ganhar por pontos, ela visa o nosso nocaute.
O VI
Congresso ocupa, portanto, a centralidade na agenda petista, não obstante a
luta e a resistência contra o golpe e as medidas neoliberais e ditatoriais do
governo ilegítimo. A tentativa de contrapor essas duas trincheiras, a luta
política e o debate pela reorientação do PT, é de uma manipulação e um
reducionismo que subestima a capacidade de leitura política da base do Partido
e em nada acumulam para a sobrevivência do PT e das esquerdas.
Buscando
amparo no grande mestre Karl Marx, em O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, de
que é preciso haver duas mortes para o fim de uma ideia: o trágico e impossível
acontecimento seguido pela sua absurda repetição. O PT já morreu uma vez, como
tragédia no golpe de estado e na estratégia conciliatória falida e poderá
morrer como farsa na negação de rever sua política. Estamos sendo chamados à
reinvenção da esquerda sob a luz de nossa realidade histórica.
Fazemos
um chamamento àqueles e aquelas que, assim como nós, acreditam que o PT não
esgotou sua dimensão histórica para a classe trabalhadora brasileira e para a
esquerda latino-americana, vamos somar esforços e votar na chapa “RECONSTRUÇÃO
SOCIALISTA”, mas principalmente mobilizar a MILITÂNCIA PETISTA em torno da
realização do VI Congresso com o objetivo de transformá-lo e dotá-lo das
condições de enfrentamento e resistência à longa e dura jornada de lutas em
defesa dos direitos trabalhistas e sociais e da soberania nacional. O que está
em jogo, afinal, é a sobrevivência da classe trabalhadora e das esquerdas nas
próximas décadas e a possibilidade dela determinar os rumos deste país.
MUDAR O
PT
MUDAR DE
VERDADE
MUDAR
PELA BASE
RECONSTRUÇÃO
SOCIALISTA